domingo, 14 de dezembro de 2008

Cães e gatos são usados como isca para tubarões em ilha francesa


  Cães e gatos, vivos e mortos, estão a ser usados como isco para tubarões por pescadores amadores na ilha sob administração francesa de Réunion, revelaram organizações de defesa dos direitos dos animais e as autoridades locais.
A pequena ilha vulcânica localizada ao largo da costa oriental de África está repleta de cães vadios, mais de 150000, diz Reha Hutin, presidente da organização com sede em Paris Fondation 30 Millions d'Amis.
Hutin enviou uma equipa de filmagens a Réunion no Verão passado, para obter provas documentais de que os animais vivos estavam a ser usados como isco para tubarões, com o objectivo de expor esta bárbara prática no programa de defesa dos direitos dos animais da organização na televisão.
Não foi preciso muito tempo para que a equipa descobrisse três casos, diz ela. Um vídeo e fotografias mostram os cães com diversos anzóis profundamente presos nas patas e focinho. "Foi a partir daí que todos começaram a levar a situação a sério, percebemos que era mesmo verdade."

Um veterinário conseguiu tratar com sucesso um dos cães, o cão de seis meses de idade com um anzol no focinho que se vê na foto acima, na SPA (Société Protectrice des Animaux) da capital de Réunion, St.-Denis.
Ao contrário da maioria dos animais usados nesta prática, o cão era o animal de estimação de alguém, revela Saliha Hadj-Djilani, repórter do programa televisivo da organização. O cão tinha, aparentemente, escapado aos seus captores e foi levado à SPA por um cidadão preocupado. Totalmente recuperado, o animal já está de regresso a casa e à companhia dos donos.
Os outros dois casos descobertos pela organização francesa eram animais vadios, que vivem agora em França com novos donos. A Fundação planeja financiar um programa de esterilização dos animais vadios da ilha para reduzir o excesso destes animais mas não será uma tarefa fácil. Hutin refere que muitos dos locais consideram os animais vadios como pestes, "a vida de um cão vadio não tem valor nenhum lá".
Stephanie Roche da Fundação Brigitte Bardot, outro grupo de defesa dos animais com sede em Paris, confirmou que animais vivos estavam a ser usados como isco na ilha de Réunion. Mas, considera ela, não se trata de uma prática comum.
A organização Bardot tem vindo a combater esta prática há uma década, mas esta é a primeira vez que os políticos de Réunion reagiram fortemente e com rapidez para acabar com esta prática, diz Roche. No mês passado, passou a ser ilegal aos barcos de pesca transportar cães e gatos, vivos ou mortos.

 A embaixada francesa em Washington, D.C., emitiu um comunicado escrito condenando a utilização de cães como isca de tubarão, enfatizando que tais atos são ilegais e não serão tolerados em território francês. Segundo a embaixada, estes são "casos muito isolados e as autoridades da ilha estão a controlar a situação de perto".
No início deste mês realizou-se o primeiro processo em que um pescador foi acusado de usar cães vivos como isca. As autoridades descobriram um cachorro com sete meses de idade na propriedade de John Claude Clain em Julho, já com três anzóis espetados nas patas e focinho.
Clain, um entregador de pão com 51 anos, foi considerado culpado de crueldade contra os animais e multado em €5000, relata o jornal local Clicanoo. No entanto, o pescador amador alega que não usou o cachorro como isca mas que o animal se tinha enredado numa armadilha para protecção da capoeira.
O caso de Clain não é único, diz Fabienne Jouve da GRAAL (Groupement de Réflexion et d'Action pour l'Animal), uma organização de defesa dos direitos dos animais com base em Charenton-le-Pont, França. "Ultimamente, quase todas as semanas, temos encontrado cães com anzóis na ilha, para não falar de gatos encontrados nas praias e parcialmente devorados por tubarões."
Uma vez que os pescadores capturam os animais, colocam-lhes imediatamente anzóis, "ou pelo menos no dia anterior, para que sangrem o suficiente". Alguns escapam antes de serem atirados ao mar, outros não têm essa sorte.
Após os anzóis serem colocados nas patas e/ou focinhos, os animais são atados a tubos infláveis com linha de pesca e largados no mar, relata o Clicanoo. Para evitar a detecção, os pescadores colocam o isco no meio da noite e regressam de manhã para verificar se capturaram algum tubarão.
"Este tipo de prática bárbara não tem qualquer tipo de desculpa em pleno século XXI", diz Jouve.
A organização americana Sea Shepherd Conservation Society de Friday Harbor, no estado de Washington, está a oferecer uma recompensa de U.S. $1000 aos agentes da polícia de Réunion que prenda pessoas que utilizem cães e gatos como isco para tubarões.
Tanto a Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals do Reino Unido, como a Fondation 30 Millions d'Amis estão a apelar aos amigos dos animais que assinem uma petição exigindo ao governo francês a implementação de medidas legais contra a utilização de cães e gatos vivos como isco de tubarões.

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